MUNDO MULHER
WORLD WOMAN
MONDO DONNA
MUNDO MUJER
MONDE FEMME
WELT FRAU
Catarina Eufémia
CANTAR ALENTEJANO*
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Poema de: Vicente Campinas
*Este poema foi musicado por José
Afonso
O eclodir da Revolução Francesa em 1789
e, sobretudo, a Revolução Socialista Soviética em 1917,
são testemunhos da força do povo anónimo, camponeses, mineiros, operários,
pobres, desempregados, perseguidos, na concretização dos grandes movimentos
revolucionários. Doravante, jamais a História deixaria de ser só obra de reis,
presidentes, ministros ou generais, para se transformar num processo complexo
onde a arraia miúda, analfabeta e descalça, teria lugar na transformação de
teorias e regimes.
Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu
em Baleizão, em 13 de fevereiro de 1928, no concelho e distrito de Beja,
filha de José Diogo Baleizão e de Maria Eufémia. Era uma assalariada pobre e
analfabeta, tendo casado em 1946 e mãe de três filhos.
A
sua vida teria sido anónima se não fosse possuir, em corpo franzino, um coração
generoso, forte e fraterno que, em cada palpitar, ansiava pela justiça da
dignidade.
O Alentejo
onde vivia era zona de latifúndios e de emprego incerto onde os camponeses
assalariados viviam em condições de proletariado rural. Os tumultos e greves
eram frequentes e sempre reprimidos violentamente pela GNR e pela PIDE.
No dia 19 de maio de 1954,
na época sazonal da ceifa do trigo, Catarina
e mais treze ceifeiras foram reclamar ao feitor da propriedade um aumento de
dezasseis para vinte e três escudos por jornada de trabalho. O feitor,
atemorizado pelo grupo das catorze mulheres e pelo ajuntamento popular foi a
Beja pedir a intervenção do proprietário e da GNR.
A
uma pergunta do tenente da GNR, de nome Carrajola, Catarina, com um filho de
oito meses ao colo, terá respondido que queriam “trabalho e pão”. Como resposta recebeu uma bofetada do tenente que
a fez cair. Ao levantar-se terá dito, “
já agora, mate-me.” O tenente Carrajola disparou, então, pelas costas, com
a pistola metralhadora três balas, à queima roupa, que lhe provocaram morte imediata
e o ferimento do filho em resultado da queda.
Este assassinato,
ou dois, Catarina Eufémia estaria grávida – daí o povo gritar “não foram uma,
mas duas mortes” – fez desta mulher uma
lenda viva, um exemplo da luta da mulher pelos ideais universais da liberdade,
igualdade, dignidade, felicidade e, sobretudo, nos tempos atuais, do imortal
princípio da resistência à opressão.
Henrique Monteiro
Prof./Editor/Escritor
Até breve...Augusta.
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