MUNDO MULHER
WORLD WOMAN
MONDO DONNA
MUNDO MUJER
MONDE FEMME
WELT FRAU
Florbela Espanca
Rústica
Ser a moça mais linda
do povoado.
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.
Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
– Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...
Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à "terra da verdade"...
Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.
Florbela Espanca, in Charneca
em Flor
A 8
de dezembro de 1894 nasceu em Vila Viçosa Florbela Espanca, filha de
Antónia da Conceição Lobo e de João Maria Espanca. Nascida de uma relação extraconjugal
do pai, foi criada por este e pela esposa, só sendo reconhecida como filha legítima
dezoito anos após a sua morte.
Em 1899,
Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário e, com sete anos de idade,
escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, A Vida e a Morte.
Em 1908, Antónia Lobo morre vítima de neurose,
após o que a família se desloca para
Évora, onde Florbela prosseguiu os seus estudos no Liceu André Gouveia.
Em 1911, começa a namorar com Alberto Moutinho com quem casa pelo civil,
aos 19 anos. O casal morou primeiro em Redondo. Em 1915 instalou-se na casa dos Espanca em Évora, por causa das
dificuldades financeiras, regressando ao Algarve em 1916, onde Florbela Espanca
reúne a sua produção poética desde 1915 no
projeto Trocando Olhares. Colaborou como jornalista em Modas & Bordados (suplemento de O
Século de Lisboa), em Notícias de
Évora e em A Voz Pública.
Regressou em 1917 a Évora onde
completou o Curso Complementar de Letras e matriculou-se
na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi uma das catorze
mulheres entre trezentos e quarenta e sete alunos inscritos.
Nesta cidade insere-se no meio boémio e,
na sequência de um aborto involuntário, começa a manifestar os primeiros
sintomas de neurose, desfazendo-se o seu casamento. Em 1919 foi publicado o Livro de
Mágoas, passando a viver com
António Guimarães o que a levou a ser alvo de uma certa marginalização
social e com quem viria a casar em 1921, passando a viver em Matosinhos. Em
1921 o casal regressa a Lisboa e, em 1923,
é publicado o Livro de Sóror Saudade.
Em 1925, divorciou-se e casou com o médico Mário Pereira Lage, com quem vivia desde 1924, passando a morar em Matosinhos.
Em 1927, com a morte do irmão Apeles, a sua saúde agrava-se, passando a viver numa profunda melancolia e desilusão. A sua vida sentimental continua instável, o que não a impediu de se apaixonar pelo pianista Luís Maria Cabral e de preparar, após duas tentativas de suicídio, a publicação do livro Charneca em Flor.
A sua neurose agrava-se e a 8 de dezembro de 1930, dia do
nascimento e do primeiro casamento, Florbela
suicida-se, cerca das duas horas, com dois frascos de Veronal.
Postumamente, foram publicados os livros As Máscaras do Destino, (1931), Charneca em Flor (1931) e Diário do Último Ano, (1981).
Postumamente, foram publicados os livros As Máscaras do Destino, (1931), Charneca em Flor (1931) e Diário do Último Ano, (1981).
VII
São mortos os que nunca acreditaram
Que esta vida é somente uma passagem,
Um atalho sombrio, uma paisagem
Onde os nossos sentidos se poisaram.
São mortos os que nunca alevantaram
Dentre escombros a Torre de Menagem
Dos seus sonhos de orgulho e de coragem,
E os que não riram e os que não choraram.
Que Deus faça de mim, quando eu morrer,
Quando eu partir para o País da Luz,
A sombra calma dum entardecer,
Tombando, em doces pregas de mortalha,
Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz,
Na solidão dum campo de batalha!
Que esta vida é somente uma passagem,
Um atalho sombrio, uma paisagem
Onde os nossos sentidos se poisaram.
São mortos os que nunca alevantaram
Dentre escombros a Torre de Menagem
Dos seus sonhos de orgulho e de coragem,
E os que não riram e os que não choraram.
Que Deus faça de mim, quando eu morrer,
Quando eu partir para o País da Luz,
A sombra calma dum entardecer,
Tombando, em doces pregas de mortalha,
Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz,
Na solidão dum campo de batalha!
Florbela Espanca, in Charneca em Flor
Henrique Monteiro
Prof./Editor/Escritor
Até breve...Augusta.
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