Se as nossas senhoras continuarem a insistir em votar e no direito de legislar, onde, senhores, ficarão as nossas refeições e onde descansarão os nossos cotovelos? Onde estarão os nossos pés ao fogo doméstico junto à lareira, e quem ficará para remendar os buracos de nossa meias?"
Jornal Oneida Whig, edição matinal de 1 de agosto de 1848
Entende-se por feminismo o movimento social, político e filosófico que teve como objetivos o estabelecimento da igualdade e direitos das mulheres e o fim da opressão a que eram sujeitas, abrangendo todos os aspetos da sua emancipação tendentes a elevar o seu estatuto social e político.
Herdeiro da ideologia iluminista, designadamente do pensamento de John Locke e Rousseau, estribou-se nos ideais da igualdade e liberdade para promover uma justiça que acabasse com as diferenças de género.
A exclusão das mulheres da cidadania fora já tema no século XVIII em textos como a Declaration des Droits de la Femme e de la Citoyene , de Olympia de Gouges, publicado em França em1791, e na Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft, publicado em Londres
em 1792, pugnando ambos para que a noção de “cidadão” fosse extensível às mulheres, concedendo-lhe assim direitos políticos.
No século XIX, o desenvolvimento da Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida das populações citadinas. O trabalho das operárias era monótono e repetitivo, vigiadas por capatazes e exploradas a nível salarial, chegando a receber um terço do salário de um homem para executar o mesmo tipo de trabalho.
Assim, ao longo deste século e primeiras décadas do século XX, a luta das mulheres irá tomar a forma de movimento organizado, abarcando duas frentes: uma, a luta tendente a modificar as condições do trabalho assalariado; outra, pelos direitos de cidadania reivindicando os direitos à instrução e civis e, principalmente, a sua participação na cena eleitoral, já que era excluída do sufrágio universal.
As lutas do movimento feminista têm a sua origem nos Estados Unidos e na Inglaterra, estendendo-se gradualmente a outros países.
Nos Estados Unidos, em 19 e 20 de julho de 1848, a Declaração de Séneca Falls marca o nascimento do movimento feminista. Dinamizada por Lucretia Mott, Lucy Stone, Susan B. Anthony, e Elizabeth Cady Stanton, esta declaração condena as desigualdades políticas a que estavam sujeitas as mulheres: não podiam votar nem ocupar cargos públicos, bem como a proibição de se filiarem em qualquer organização política ou inclusivamente participar em reuniões políticas.
Outro exemplo a que se alude da luta das mulheres americanas tendente à melhoria das suas condições laborais /sociais foi o trágico acontecimento (ainda não rigorosamente esclarecido pela História), ocorrido em 8 de março de 1857, em Nova Iorque.
Nos anos seguintes a luta recrudesceu, com passeatas e manifestações, e o movimento feminista assume um caráter mais organizado, representado em associações de caráter fortemente reivindicativo como a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres, tendo como vitória significativa a concessão do direito de voto em todos os estados pela aprovação da 19ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, de 1919.
Em Inglaterra o movimento sufragista iniciou-se com a petição de 1866, baseada na proposta do deputado Stuart Mill para substituir na lei sobre o direito de voto a palavra “homem” pela palavra “pessoa”. Esta petição acabou por vir a ser derrotada. Contudo, isto não impediu que, nas primeiras décadas do século XX, sufragistas inglesas como Emmeline Pankhurst, Emily Davison continuassem a pugnar pelo seu
ideal, fazendo campanhas pelo direito de voto.
Assim, em 1918, foi aprovado o Representation of the People Act concedendo o voto às mulheres acima de 30 anos de idade que possuíssem uma ou mais casas e, em 1928, este direito foi estendido a todas as mulheres acima de vinte e um anos de idade.
Em França, o movimento feminista debruça-se sobre questões ligadas ao mundo laboral e familiar. O direito de voto feminino é reivindicado por Hubertine Auclert através da associação por ela dirigida, Le Suffrage des Femmes e pelo jornal La Citoyenne por ela fundado em 1881. Em 1901 o Deputado francês René Viviani defende o direito de voto das mulheres.
O movimento feminista foi alargando a sua ação a outros países. Em 1859, surge na Rússia, em São Petersburgo , um movimento de luta pelos direitos das mulheres. Na Suécia, em 1862, as mulheres podem votar pela primeira vez nas eleições municipais. Na Alemanha, Louise Otto, em 1865, cria a primeira Associação Geral das Mulheres Alemãs. Estas ações continuam a manter-se nos anos imediatos e durante o século XX.
A persistência do movimento sufragista vai permitir que, dos finais do século XIX à década de 70 do século XX, o direito de voto paulatinamente se alargue às mulheres em diversos países:
· 1903 – Austrália
· 1906 – Finlândia
· 1913 – Noruega
· 1915 – Dinamarca
· 1917 – Holanda e Rússia
· 1918 – Alemanha, Áustria e Inglaterra
· 1919 – Suécia e Polónia
· 1920 – Estados Unidos
· 1931 – Portugal e Espanha
· 1934 – Brasil
· 1944 – França
· 1945 – Japão
· 1949 – China
· 1950 – Índia
· 1953 – México
· 1971 – Suíça
· 1971 – Suíça
Henrique Monteiro
Prof./Editor/Escritor
Até breve...Augusta.
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