domingo, 25 de março de 2012

A emancipação da mulher no século XIX e primeira metade do século XX

Se as nossas senhoras continuarem a insistir em votar e no direito de legislar, onde, senhores, ficarão as nossas refeições e onde descansarão os nossos cotovelos? Onde estarão os nossos pés ao fogo doméstico junto à lareira, e quem ficará para remendar os buracos de nossa meias?"
                 Jornal Oneida Whig, edição
                 matinal de 1 de agosto de 1848

Entende-se por feminismo o movimento social, político e filosófico que teve como objetivos o estabelecimento da igualdade e direitos das mulheres e o fim da opressão a que eram sujeitas, abrangendo todos os aspetos da sua emancipação tendentes a elevar o seu estatuto social e político.
Herdeiro da ideologia iluminista, designadamente do pensamento de John Locke e Rousseau, estribou-se nos ideais da igualdade e liberdade para promover uma justiça que acabasse com as diferenças de género.
A exclusão das mulheres da cidadania fora já tema no século XVIII em textos como a Declaration des Droits de la Femme e de la Citoyene, de Olympia de Gouges, publicado em França em1791, e na Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft, publicado em Londres
em 1792, pugnando ambos para que a noção de “cidadão” fosse extensível às mulheres, concedendo-lhe assim direitos políticos.
No século XIX, o desenvolvimento da Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida das populações citadinas. O trabalho das operárias era monótono e repetitivo, vigiadas por capatazes e exploradas a nível salarial, chegando a receber um terço do salário de um homem para executar o mesmo tipo de trabalho.
Assim, ao longo deste século e primeiras décadas do século XX, a luta das mulheres irá tomar a forma de movimento organizado, abarcando duas frentes: uma, a luta tendente a modificar as condições do trabalho assalariado; outra, pelos direitos de cidadania reivindicando os direitos à instrução e civis e, principalmente, a sua participação na cena eleitoral, já que era excluída do sufrágio universal.
As lutas do movimento feminista têm a sua origem nos Estados Unidos e na Inglaterra, estendendo-se gradualmente a outros países.
Nos Estados Unidos, em 19 e 20 de julho de 1848, a Declaração de Séneca Falls marca o nascimento do movimento feminista. Dinamizada por Lucretia Mott, Lucy Stone, Susan B. Anthony, e Elizabeth Cady Stanton, esta declaração condena as desigualdades políticas a que estavam sujeitas as mulheres: não podiam votar nem ocupar cargos públicos, bem como a proibição de se filiarem em qualquer organização política ou inclusivamente participar em reuniões políticas.
Outro exemplo a que se alude da luta das mulheres americanas tendente à melhoria das suas condições laborais /sociais foi o trágico acontecimento (ainda não rigorosamente esclarecido pela História), ocorrido em 8 de março de 1857, em Nova Iorque.
Nesse dia, as operárias da fábrica de tecidos revoltadas com a situação laboral, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho de dezasseis para dez horas de trabalho diário e equiparação de salários com os homens. A manifestação foi reprimida violentamente, as mulheres foram trancadas e incendiadas dentro da fábrica, morrendo 130 tecelãs carbonizadas.
Nos anos seguintes a luta recrudesceu, com passeatas e manifestações, e o movimento feminista assume um caráter mais organizado, representado em associações de caráter fortemente reivindicativo como a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres, tendo como vitória significativa a concessão do direito de voto em todos os estados pela aprovação da 19ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, de 1919.
Em Inglaterra o movimento sufragista iniciou-se com a petição de 1866, baseada na proposta do deputado Stuart Mill para substituir na lei sobre o direito de voto a palavra “homem” pela palavra “pessoa”. Esta petição acabou por vir a ser derrotada. Contudo, isto não impediu que, nas primeiras décadas do século XX, sufragistas inglesas como Emmeline Pankhurst, Emily Davison continuassem a pugnar pelo seu
ideal, fazendo campanhas pelo direito de voto.

Assim, em 1918, foi aprovado o Representation of the People Act concedendo o voto às mulheres acima de 30 anos de idade que possuíssem uma ou mais casas e, em 1928, este direito foi estendido a todas as mulheres acima de vinte e um anos de idade.
 Em França, o movimento feminista debruça-se sobre questões ligadas ao mundo laboral e familiar. O direito de voto feminino é reivindicado por Hubertine Auclert através da associação por ela dirigida, Le Suffrage des Femmes e pelo jornal La Citoyenne por ela fundado em 1881. Em 1901 o Deputado francês René Viviani defende o direito de voto das mulheres.
O movimento feminista foi alargando a sua ação a outros países. Em 1859, surge na Rússia, em São Petersburgo, um movimento de luta pelos direitos das mulheres. Na Suécia, em 1862, as mulheres podem votar pela primeira vez nas eleições municipais. Na Alemanha, Louise Otto, em 1865, cria a primeira Associação Geral das Mulheres Alemãs. Estas ações continuam a manter-se nos anos imediatos e durante o século XX.
A persistência do movimento sufragista vai permitir que, dos finais do século XIX à década de 70 do século XX, o direito de voto paulatinamente se alargue às mulheres em diversos países:

·         1893 – Nova Zelândia
·         1903 – Austrália
·         1906 – Finlândia
·         1913 – Noruega
·         1915 – Dinamarca
·         1917 – Holanda e Rússia
·         1918 – Alemanha, Áustria e Inglaterra
·         1919 – Suécia e Polónia
·         1920 – Estados Unidos
·         1931 – Portugal e Espanha
·         1934 – Brasil
·         1940 – Turquia e Canadá
·         1944 – França
·         1945 – Japão
·         1949 – China
·         1950 – Índia
·         1953 – México
·         1971 – Suíça



Henrique Monteiro
Prof./Editor/Escritor
Até breve...
Augusta.

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