domingo, 4 de agosto de 2013

Mundo Mulher (XI) – Catarina Eufémia

MUNDO MULHER
WORLD WOMAN
MONDO DONNA
MUNDO MUJER
MONDE FEMME
WELT FRAU

Catarina Eufémia


                                                                                                          CANTAR ALENTEJANO*
 
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão
a viu morrer
 
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
 
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
 
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
 
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
 
        Poema de: Vicente Campinas
*Este poema foi musicado por José Afonso


O eclodir da Revolução Francesa em 1789 e, sobretudo, a Revolução Socialista Soviética em 1917, são testemunhos da força do povo anónimo, camponeses, mineiros, operários, pobres, desempregados, perseguidos, na concretização dos grandes movimentos revolucionários. Doravante, jamais a História deixaria de ser só obra de reis, presidentes, ministros ou generais, para se transformar num processo complexo onde a arraia miúda, analfabeta e descalça, teria lugar na transformação de teorias e regimes.
 
Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu em Baleizão, em 13 de fevereiro de 1928, no concelho e distrito de Beja, filha de José Diogo Baleizão e de Maria Eufémia. Era uma assalariada pobre e analfabeta, tendo casado em 1946 e mãe de três filhos.
A sua vida teria sido anónima se não fosse possuir, em corpo franzino, um coração generoso, forte e fraterno que, em cada palpitar, ansiava pela justiça da dignidade.
 
O Alentejo onde vivia era zona de latifúndios e de emprego incerto onde os camponeses assalariados viviam em condições de proletariado rural. Os tumultos e greves eram frequentes e sempre reprimidos violentamente pela GNR e pela PIDE.
 
No dia 19 de maio de 1954, na época sazonal da ceifa do trigo, Catarina e mais treze ceifeiras foram reclamar ao feitor da propriedade um aumento de dezasseis para vinte e três escudos por jornada de trabalho. O feitor, atemorizado pelo grupo das catorze mulheres e pelo ajuntamento popular foi a Beja pedir a intervenção do proprietário e da GNR.
A uma pergunta do tenente da GNR, de nome Carrajola, Catarina, com um filho de oito meses ao colo, terá respondido que queriam “trabalho e pão”. Como resposta recebeu uma bofetada do tenente que a fez cair. Ao levantar-se terá dito, “ já agora, mate-me.” O tenente Carrajola disparou, então, pelas costas, com a pistola metralhadora três balas, à queima roupa, que lhe provocaram morte imediata e o ferimento do filho em resultado da queda.
Este assassinato, ou dois, Catarina Eufémia estaria grávida – daí o povo gritar “não foram uma, mas duas mortes” – fez desta mulher uma lenda viva, um exemplo da luta da mulher pelos ideais universais da liberdade, igualdade, dignidade, felicidade e, sobretudo, nos tempos atuais, do imortal princípio da resistência à opressão.
E nunca o facto do Partido Comunista Português ter feito dela uma das suas bandeiras e símbolos, a poderá tornar menos merecedora dos universais princípios, comuns a todos os homens e mulheres, pelos quais deu a vida a semente do exemplo.

 
Henrique Monteiro
Prof./Editor/Escritor
Até breve...
Augusta. 
 

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